Estudo Aponta Necessidade Urgente de Políticas para Conservação dos Campos Naturais no Corredor Ecológico do Rio Chapecó

Um estudo recente realizado pela pesquisadora Juliana Mio, no âmbito de sua pesquisa de doutorado, trouxe à tona uma realidade preocupante: a possível extinção dos campos naturais na área do Corredor Ecológico do Rio Chapecó – CE Chapecó, no oeste de Santa Catarina, se medidas de conservação não forem implementadas imediatamente.

Criado pelo Decreto Estadual n° 2.957 de 20 de janeiro de 2010, o Corredor Ecológico do Rio Chapecó tem como objetivo promover a valorização e preservação de florestas nativas e outros ambientes naturais, essenciais para a manutenção da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos na região.

Utilizando métodos de construção de cenários e recursos de Inteligência Artificial, o estudo analisou diferentes possibilidades futuras para o uso e cobertura da terra (Land Use and Land Cover) e identificou as principais forças indutoras dessas mudanças. Entre 2000 e 2018, a área de campos naturais reduziu em 55% devido à pressão do setor agropecuário. Cenários preditivos indicam que, se essa tendência continuar, apenas 0,5% dos campos naturais restarão em 2036. Em um cenário de recessão econômica e social, essa cobertura pode reduzir ainda mais, para 0,2%.

A situação dos campos naturais no Corredor Ecológico do Rio Chapecó não é isolada. Em outras regiões, como o Planalto Sul, 72% da expansão da soja ocorreu em detrimento de áreas de campos naturais nos últimos 10 anos, conforme estudos coordenados pelo pesquisador da Epagri/Ciram, Kleber Trabaquini. A perda desses ecossistemas agrava problemas ambientais, como os impactos socioambientais e econômicos decorrentes das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul em maio 2024.

Os resultados da pesquisa apontam para a urgência de ações de intervenção territorial para recuperação e preservação dos campos naturais, além de incentivos a práticas agrícolas conservacionistas e a estratégias econômicas e tecnológicas sustentáveis. É imperativo que documentos de gestão territorial, como o Plano de Gestão do CE Chapecó e o Plano de Desenvolvimento SC2030, incluam medidas claras e direcionadas à conservação desses ecossistemas.

A Epagri destaca a importância desse estudo para a elaboração de políticas públicas que garantam a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento sustentável no oeste catarinense e outras regiões afetadas por mudanças no uso e cobertura da terra. A preservação dos campos naturais é essencial para a manutenção dos serviços ecossistêmicos e para mitigar os impactos ambientais adversos.

Redução de área de campos naturais (grassland) no CE Chapecó: 2000 (a), ano 2018 (b) e simulação para 2036 (c)

Referências

Governo do Estado de Santa Catarina. Decreto no 2.957 de 20 de janeiro (2010). Governo do Estado de Santa Catarina, Florianópolis, SC/Brasil. 2010.
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Betta MMD, Trabaquini K, Elias HT, Silva MS. Mapeamento da soja por meio de imagens Landsat e Sentinel-2 nos municípios de Lages e Capão Alto em Santa Catarina. Rev Agropecuária Catarinense. 2022.

Contato:

Juliana Mio de Souza
Telefone: 48 3665 5150
E-mail: julianasouza@epagri.sc.gov.br